Como explicar o divórcio para os filhos: Ajudando na transição com psicoterapia infantil

A separação conjugal, ainda que seja a melhor escolha para os adultos, pode abalar profundamente o mundo emocional da criança. Mais do que lidar com mudanças práticas — como morar em duas casas ou dividir o tempo entre os pais —, a criança enfrenta a dor de perder a fantasia de uma “família perfeita”. Na visão da psicoterapia psicanalítica, esse momento exige uma reorganização dos vínculos afetivos e da percepção de segurança emocional da criança.

Quando os pais se separam, os filhos costumam experimentar sentimentos intensos, muitas vezes não verbalizados. Emoções como tristeza, raiva, medo de abandono, ansiedade diante do futuro e até culpa por acreditar ser a causa da separação são comuns. Esse turbilhão emocional pode ser vivenciado como uma desestruturação da realidade familiar da criança.

 

Alguns sinais de sofrimento infantil diante do divórcio incluem regressões (como voltar a fazer xixi na cama), queda no desempenho escolar, irritabilidade, isolamento social e sintomas físicos. Esses comportamentos são, na maioria das vezes, formas inconscientes de comunicar a dor interna que ainda não pode ser expressa em palavras.

Mas como ajudar a criança a lidar com a separação dos pais?

psicoterapia infantil psicanalítica oferece um espaço protegido onde a criança pode expressar seus sentimentos com liberdade e segurança. Segundo o psicanalista D. W. Winnicott, esse espaço funciona como um ambiente transicional, em que brincar é a principal forma de comunicação.

Durante as sessões, a criança pode brincar de casinha, encenar brigas entre bonecos, desenhar seus medos ou inventar histórias que refletem seus conflitos internos. Com a mediação e escuta qualificada do terapeuta, esses conteúdos simbólicos passam a fazer sentido. O que antes era inominável se transforma em linguagem, promovendo alívio e elaboração emocional.

Ressignificar a perda: Construindo novos vínculos após o divórcio

Um dos pilares da psicoterapia infantil nesse contexto é ajudar a criança a ressignificar a perda da estrutura familiar idealizada. A terapeuta atua como um “continente emocional”, validando sentimentos sem julgamento e apontando caminhos para reconstrução interna.

A criança aprende, com o tempo, que a separação dos pais não significa perda de amor ou abandono. Ela entende que a função de pai e mãe continua, mesmo sem o vínculo conjugal. Essa diferenciação é essencial para que a criança recupere a confiança e volte a se sentir pertencente em sua nova realidade familiar.

A importância do trabalho com os pais na psicoterapia infantil

O acompanhamento psicoterapêutico não se limita à criança. O envolvimento dos pais no processo é fundamental para garantir que a nova organização familiar seja comunicada com clareza e empatia. Pais que compreendem a importância de manter a função parental ativa ajudam seus filhos a atravessarem esse momento com mais estabilidade emocional.

Mesmo separados como casal, pai e mãe continuam sendo figuras essenciais na vida da criança. Por isso, a psicoterapia também acolhe os adultos, oferecendo suporte para que possam exercer a parentalidade com mais consciência, colaboração e afeto.

Um espaço seguro para sentir, elaborar e seguir em frente

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Ao proporcionar um ambiente seguro, simbólico e acolhedor, a psicoterapia infantil fortalece o ego da criança e promove o desenvolvimento emocional saudável. Ela aprende a lidar com perdas, a reconhecer e nomear sentimentos e a construir novas fantasias mais realistas sobre sua vida e seus vínculos.

Em um momento de grande dor e mudança, a psicoterapia oferece esperança: mostra à criança que é possível sofrer, elaborar — e seguir em frente com segurança e afeto.

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Psico. Carolina Conte

Psicóloga infantil com especialização em intervenção precoce. Ainda, trabalha com psicanalise e comportamento.

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